Educação domiciliar expõe desigualdade de acesso à internet no Brasil
Segundo o IBGE, 25% das casas no Brasil não tem acesso à internet
Irislayne Tavares
13 de Maio de 2020

Foto: reprodução

A Pnad, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Contínua TIC, divulgada em abril de 2020 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede. Os dados referem-se aos três últimos meses de 2018 e em porcentagem representam, aproximadamente, 25,3% que ainda estão sem internet. 

Outro dado vem da consultoria e IDados. Segundo um estudo, 21% dos alunos do ensino básico da rede pública não tem acesso à internet em casa. Já na rede particular de ensino, o número cai para apenas 3%. 

Diante dessa realidade, o discurso de que a tecnologia aproxima e democratiza não soa verdadeiro, afinal, é comprovado que a desigualdade de inclusão digital existe. O Voz de Mulher conversou com especialistas em educação para saber o que pode ser feito para suprir a carência da internet nas aulas domiciliares.

A pedagoga e professora da rede pública de educação, Miriã Mendes de Sena, falou sobre as alternativas que os pais sem acesso à internet podem usar para ajudar seus filhos dentro de casa a não perder o foco nos estudos “Não ter internet é um problema nos dias de hoje, o ideal seria estabelecer um horário para os estudos da criança, e se possível até vestir o uniforme e dedicar um lugar da casa para a aprendizagem. Se a criança estiver na etapa de alfabetização, os pais podem estimular a leitura e questionamentos a partir dos materiais que se tem dentro de casa.” 

"A criação de jogos com material reciclado são ótimas formas de ensinar e aprender muitas coisas, os jogos de tabuleiro, de montar, brincadeiras em geral podem ser usados para ensinar português, matemática, história, geografia e outras disciplinas ou conteúdo específico. Isso é muito legal, pois os pais ganham na interação lúdica com os filhos ", explica a pedagoga Valda Almeida, questionada sobre as alternativas para fazer as crianças aprenderem durante a pandemia.

“Outra sugestão também seria a escola mandar o material impresso para essas crianças, mas é mais relevante trabalhar com o que se tem em casa, tudo que é feito a partir da realidade do aluno é mais significativo e vai ter melhores resultados na aprendizagem. É importante os pais conscientizarem as crianças sobre a importância dos estudos!”, completa Miriã.  


Disciplina com ou sem internet

Valda esclarece dúvidas sobre rotina de estudos, explicando que “Ser disciplinado com horário e tarefas ajuda muito. Conversando com alguns pais, eles relataram que a escola faz vídeo aula e que solicitaram, que nesse horário, o aluno vista até mesmo uniforme para que ele entenda que aquele é o horário de estudar. Na verdade, está no espaço físico da casa dele, mas no espaço virtual a criança está na escola não está em casa. Essas escolas entendem que o uso do uniforme ajuda a criança a perceber aquele momento e assimilar que não é hora para distrações domésticas.”

“Os pais devem combinar com seus filhos o horário de estudo, o horário de brincar, de ver TV, etc. Essa disciplina é boa para toda família. É interessante porque muitas famílias não têm essa disciplina (não têm hora para almoçar, lanchar ou jantar; não têm hora para o banho, etc). No momento do estudo, toda família precisa cooperar. Nada de ficar interrompendo, dando tarefas, distraindo a criança no horário que ela deve dedicar-se ao estudo. A crianças precisa ser desafiada, incentivadas a estabelecer e cumprir metas. Precisa ser recompensada quando supera seus limites. Todo esforço e dedicação quando são recompensados, transformam -se em motivação para uma próxima etapa e gera expectativas positivas”, acrescenta a pedagoga.


Homeschooling e suas consequências

Especialistas explicam que o homeschooling, estudar em casa, tira da criança a chance de aprender com a diversidade e com as experiências da convivência em grupo, além de afetar seu desenvolvimento cultural, afetivo e até cognitivo. Quais são as consequências trazidas pela paralisação das aulas? 

“Uma das consequências é a interatividade das crianças, sem interação social pode surgir vários problemas como os de déficit de atenção e ansiedade. As atividades cognitivas também são afetadas nesse período de pandemia, nas escolas a parte cognitiva do aluno é muito estimulada e com paralisação das aulas não se tem mais o mesmo estimulo. O que acaba fragilizando o desenvolvimento da parte intelectual da criança” diz o psicólogo Daniel Bezerra. 

Caroline Piquet, mãe do pequeno Theo Chaves, de 3 anos, relata a experiência de seu filho na escola. “Esse foi o primeiro ano do Theo na escola, ele estava no período de adaptação, quando ele começou a se adaptar aconteceu a paralisação. Acho que se voltar agora (as aulas) o chororô vai começar tudo de novo.” 

No final de abril, o Conselho Nacional de Educação recomendou que as aulas não presenciais sejam contadas na carga horária, abrindo a possibilidade para que conselho estaduais e municipais, que regulam redes pública e privada, permitam a prática. Até o momento da publicação dessa reportagem, as aulas virtuais não substituem as presenciais. O ministério da Educação continua a exigência das 800 horas no ano letivo.

Vale destacar também que o Enem 2020 segue até o momento sem alteração na data de aplicação da prova, após muitos pedidos para a adiamento do exame, o presidente do INEP, Alexandre Lopes, contou que as datas "por enquanto" estão mantidas.

 

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