A música wesleyana e a igreja brasileira
A doutrina wesleyana continua inspirando canções de geração em geração
Luana Marino
03 de Abril de 2020

Anderson Freire é um dos nomes da música wesleyana atual

A principal referência que temos quando o assunto é música cristã está na própria Bíblia, já que há um livro inteiro dedicado a ela, Salmos — livro este, inclusive, que é o maior das Escrituras Sagradas, com 150 cânticos escritos por vários autores, sendo Davi o que compôs o maior número de músicas lá registradas. Lá estão os mais belos e conhecidos versos, como o salmo 23, que fala da segurança daquele que tem Deus como o seu pastor, o 100, que convida todos a celebrarem o nome do Senhor com júbilo, e também salmos que falam dos feitos e maravilhas de Deus para com o povo de Israel.

Os salmos são a mais bela expressão da ação do Espírito Santo sobre a vida do homem, e não é diferente nos dias de hoje. Da mesma forma como inspirou a composição dos cânticos da época bíblica, continua inspirando cristãos que fazem da música instrumento de exaltação ao nome do Senhor.

Ora, a música é uma das mais belas criações de Deus. É uma das formas mais conhecidas de adoração, tanto que os momentos de louvor nas igrejas possuem este nome. E o metodismo tem em sua história o nome de um dos grandes compositores da música sacra da história: Charles Wesley.

Quando se fala do movimento metodista, o nome que primeiro vem à mente é o de John Wesley, considerado o fundador do metodismo, porém é inegável a contribuição de Charles, irmão de John, a este movimento, que se estende desde a primeira etapa, a criação do Clube Santo, e passa pelas missões na América do Norte. Contudo, é no campo da hinologia que Charles se destaca, sendo primordial para o avanço do movimento Wesleyano.

De fato, é difícil imaginar a expansão do metodismo sem a força dos seus cânticos, como bem define José Carlos de Souza, ao propor sua “Linha do Tempo — Vida de Charles Wesley (1707-1788). São nada menos do que aproximadamente 9 mil hinos e poemas sacros, tanto que o próprio John elogiou o talento do irmão para a poesia durante a Conferência de 1788.


Wesley, cânticos de adoração e os dias atuais

Os hinos de Charles Wesley são entoados até hoje. Em nosso hinário “Cânticos de Adoração”, há canções de sua autoria, “Meu divino protetor” (112) e “Eis dos anjos harmonia” (346). O primeiro versa sobre o poder de Jesus (“Cristo, és tudo em meu viver/ Tudo em ti eu posso achar/ Os enfermos, com poder/ Só tu podes levantar/ És bondoso e santo, ó Deus/ Sou ingrato pecador/ Vem, dirige os passos meus/ Santifica-me, Senhor”), enquanto o segundo é uma bela canção de Natal que exalta o nascimento de Cristo (“Eis dos anjos a harmonia/ Cantam glória ao novo Rei/ Paz aos homens e alegria/ Paz com Deus e suave lei/ Ouçam povos exultantes/ Ergam salmos triunfantes/ Aclamando o seu Senhor/ Nasce Cristo, o Redentor”).

Como se vê, são letras que transbordam poesia, e não por acaso Charles Wesley é referido como o poeta do movimento metodista. E de Wesley a cantores do gospel contemporâneo, a doutrina metodista wesleyana é inspiração para muitas canções que são instrumentos de adoração a Deus em nossas igrejas.

O Voz Wesleyana conversou com dois cantores que sabem bem o que é o legado da doutrina wesleyana para a música cristã, o pastor Elizeu Gomes e o cantor e compositor Anderson Freire. Eles falaram sobre o início na música, suas inspirações e o que a igreja representa em seus ministérios como músicos.

Pastor Elizeu Gomes é um dos principais compositores da música gospel

Pastor Elizeu, que atualmente está à frente da IMW Campinas, na 3ª Região, cresceu em um ambiente musical, pois sua mãe tocava na banda de instrumentos de sopro da igreja. Já aos 11 anos de idade descobriu sua vocação para a música.

“[Na ocasião] A música gospel era baseada em hinos tradicionais. Eu cresci na base dos hinários da Harpa Cristã e do Cantor Cristão”, contou o pastor, relatando que durante sua adolescência, viu a ascensão dos corinhos e depois as músicas do chamado “período de louvor”, como atualmente é chamada a música gospel. “Era muito diferente de hoje, muita coisa mudou. A gente tenta mudar junto, se reinventar, mas é muito difícil”, ressalta.

Para Anderson Freire, o que marcou o seu início na música foi ainda quando morava no interior com sua família e via seus irmãos louvando na igreja. “Lá tinha uma caixa, um violão, uma guitarrinha e eles louvavam ao Senhor, abriam vozes, era impressionante, e meus irmãos nunca tinham participado de escola de música, e eles abriam vozes. Eu sentia o céu na minha casa, era como um coral de anjos”, fala o autor de “Raridade”. 

“Música era uma grande novidade [na época], não tinha aquela questão da divulgação, então havia uma espera natural. Acho que era de dois em dois anos que se lançava LP, e as pessoas sabiam que sempre ia surgir algo novo. A aceitação no meio era maravilhosa, claro que havia algumas restrições a alguns estilos, se rolasse uma sanfona ou pandeiro, algumas pessoas mais conservadoras achavam que era pecado. Lembro do Rebanhão também, que veio quebrando barreiras dentro da igreja”, disse Anderson, referindo-se ao grupo formado em 1979 que é considerado um dos precursores do rock cristão. “Para acontecer a aceitação, barreiras foram quebradas.”

Uma tradição que muito representa a igreja brasileira — e, claro, a Metodista Wesleyana — é justamente o hinário com seus cânticos clássicos, e esse costume mostra como a música é uma ferramenta importante para a adoração genuína. Pastor Elizeu definiu os hinos clássicos como “âncoras no porto seguro onde há adoração”. Nas palavras de Anderson, “Os cânticos clássicos são eternos”.

O cantor e membro da IMW em Cachoeiro do Itapemirim ainda vai além, afirmando que tais cânticos representam um legado para as novas gerações, e ainda destaca a época em que essas músicas que tanto caracterizam a Wesleyana foram escritas.

“Nem sempre um novo hit vai ser um clássico, mas sempre um clássico será um eterno hit. O que chega hoje não tem que competir com o que passou, porque não vai vencer. Essas canções foram inseridas numa época em que os homens às vezes pensavam escondido, não tinham uma janela voltada para o mar, não tinham um ambiente, um paraíso para compor uma canção, Bíblias avançadas, estudos avançados... E o que eles tinham? A vida com Deus, a comunhão, às vezes um Texto Sagrado para meditar, estavam sofrendo, mas estavam perto de Deus. Eles escreviam sobre o momento deles de superação, e isso me inspira muito. ‘Coração valente’, se você analisar, tem cara de clássico, ‘Acalma o meu coração’ também”, destacou Anderson.

Se os cânticos escritos no passado marcam gerações até hoje, a música gospel produzida atualmente também será vista daqui há alguns anos como legado, e tanto Elizeu Gomes quanto Anderson Freire terão seus nomes escritos ao lado de tantos outros compositores marcantes da música cristã. 

A composição, aliás, é um ponto alto na tradição Metodista Wesleyana, desde Charles Wesley. Pastor Elizeu é considerado um dos grandes compositores da música cristã no Brasil, sendo o autor dos sucessos “Anjos de Deus”, “Com muito louvor” e “Não há Deus como tu”, entre outros. Ao todo, são 35 anos dedicados a este ministério.

“Eu me considero um compositor transacional porque comecei sem querer, sem saber escrever, e, como muito neófito, compus um pouco sobre triunfalismo, isto me deu trabalho depois. Então cresci, entendi um pouco e fiz uma atualização. Assim mudei o foco, que é colocar Deus em um lugar de adoração, e aí minhas canções passaram a ter mais cuidado de adoração de caráter em Deus”, explica o pastor Elizeu.

Anderson relata algumas experiências que viveu com Deus e como elas influenciaram suas composições. “Existe uma canção muito marcante na minha vida que é Raridade, e a inspiração veio na época em que eu visitava presídios. O que me inspirou foi o valor de uma alma. Através dessa composição, pessoas se entregaram a Jesus. ‘Acalma meu coração’ foi um momento de oração, eu entrei para o quarto e escrevi essa canção, nunca vou esquecer deste dia. Lembro exatamente como era o meu quarto, o lençol que estava na cama, como peguei na maçaneta da porta... não tem como esquecer, porque tudo apontava para Cristo, o inesquecível, o que me fez gerar esta canção. Acalma meu coração foi muito mais que um dia de cura, foi a minha cura naquele dia, naquele tempo”, lembrou o cantor.

Para ambos, a doutrina Wesleyana é também um legado para eles na hora das composições. “A doutrina Wesleyana, que é totalmente bíblica, me ajuda por que não cometo modismos ou tendências heréticas. Pelo menos eu penso que não. A nossa formação como obreiro na Igreja Wesleyana é muito profunda, e isso evita que o que você cometa alguns erros de teologia, porque no final o que fica é a mensagem que a música passa”, salienta Elizeu Gomes.

Anderson concorda com a fala do pastor, destacando que o Centro de Formação Teológica — CEFORTE — tem atuado com equilíbrio no ensino das doutrinas cristãs. “Ensinamento traz equilíbrio, e eu não vejo exageros, vejo uma visão que é Cristocêntrica, o antropocêntrico não fere o cristocêntrico, a gente vê que o homem é valorizado por causa da graça de Deus, é por causa da graça, do amor, da fé, por causa do Reino. A doutrina sempre cooperou, os ensinamentos, os comportamentos, e isso me inspira muito.”

O cantor de Raridade ainda fala que a raiz wesleyana do amor ao próximo é uma das coisas que mais o inspira a escrever. “Existe algo na Metodista Wesleyana que é o acesso. Escrevi uma vez sobre a sala do trono, o que eu preciso fazer para chegar lá, e eu preciso amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo. Preciso entender que Deus é amor, e só conhece a Deus aquele que ama, e como posso amar quem eu não vejo, se eu não amo quem vejo? Opa, achei o que eu quero! Na Wesleyana, a gente tem uma prática muito forte: amar quem a gente vê, wesleyana é uma igreja que ama, e isso me inspirou a fazer canções sobre amor, sobre unidade, o caminho até chegar à sala do trono, jamais desprezar os servos do Senhor, que adoram ao Senhor sem precisar de trono.”

Por fim, pastor Elizeu destaca que a Wesleyana sempre deu a ele oportunidade e liberdade. “Eles ouviram quando eu comecei, [a música] não era muita coisa boa, mas eu fui crescendo, eles me deram oportunidade de errar e crescer, de melhorar e hoje é uma base da minha vida”, fala.

“Falar da Wesleyana é emocionante, representa minha família, e eu não preciso de comparações para falar que minha família é única”, declara Anderson Freire. “Não preciso de comparações para falar bem dela. Acho que a wesleyana faz parte da minha família, respeito todas as igrejas e tenho a IMW como maior referência de uma família cristã. É uma igreja que me apoia não porque sou cantor, mas apoia a minha vida pessoal, vida de membro, cuida da minha família enquanto estou fora, minha esposa está sendo cuidada. Não é uma família perfeita, talvez seja como a família do filho pródigo, tem aquele que fica, aquele que se vai, mas tem o pai que está sempre dando a oportunidade para nos amarmos, fazermos festa. É o que todos temos em comum nessa casa: o amor do pai, é isso que faz diferença. A Wesleyana me inspira, é a minha casa, eu amo meus pastores, todos que passaram por Cachoeiro, e até as cicatrizes me fazem lembrar que eu estou curado, para a glória do Senhor Jesus”, conclui.

 

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