Família e seus desafios
Último Censo mostrou mudança significativa no perfil da chamada família tradicional
Luana Marino
15 de Maio de 2020

O último Censo oficialmente realizado no Brasil aconteceu em 2010, há dez anos, e os resultados da análise demográfica já desenhavam um cenário que vem crescendo a cada ano: a família mudou. Ao todo na ocasião, foram identificados 19 laços de parentesco no país, e a maioria das famílias analisadas pela pesquisa — 50,1% — não faz parte do chamado modelo tradicional, composto por pai, mãe e filhos.

Outro dado que comprova a mudança também é do IBGE, da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) de 2015. O indicador apontou que o arranjo formado por um casal heterossexual e filhos ocupa agora apenas 42,3% dos lares, uma queda de 7,8 pontos percentuais em relação a 2005, quando abrangia 50,1% das moradias.

E segundo a pesquisa, novas tendências ganharam força, como a do casal sem filhos. Um em cada cinco lares já é nesse formato (19,9%), e isso pode ser explicado sobretudo pelo aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, com ela priorizando cada vez mais a carreira do que a formação de uma família nos modelos clássicos.

Não é difícil, aliás, constatar que esta realidade está cada vez mais presente ao nosso redor. Afinal, quem nunca conheceu um casal que decidiu não ter filhos, ou filhos de pais divorciados que já estão em novos relacionamentos, ou mesmo pessoas que foram criadas por outros parentes, e tem em avós ou tios a referência de pai e mãe?

O mês de maio é tradicionalmente o mês em que a Igreja Metodista Wesleyana dedica às famílias. Entramos em contato com líderes de ministérios de famílias nas IMWs pelo Brasil para saber qual a visão que eles têm desta nova realidade e quais são os principais desafios que as famílias têm enfrentado nas igrejas.


Igreja e a família atual

Família, segundo o dicionário Michaelis, é “Conjunto de pessoas, em geral ligadas por laços de parentesco, que vivem sob o mesmo teto; Conjunto de ascendentes, descendentes, colaterais e afins de uma linhagem ou provenientes de um mesmo tronco”.

A família foi a primeira instituição criada por Deus, ainda no Jardim do Éden. É considerada a célula mater da sociedade, pois é o primeiro meio social do qual o ser humano participa desde o seu nascimento.

Essa base precisa ser cuidada, pois muitos problemas sociais costumam ter suas origens em problemas familiares. Por isso, o trabalho com famílias é de suma importância, sobretudo para a igreja. 

Silvia Seabra, que trabalha há 18 anos com famílias e atualmente é líder desse ministério na IMW Central de Petrópolis, avalia que um dos motivos de as igrejas atuais refletirem as mudanças estruturais nas famílias, apontadas pelos indicadores demográficos, possa ser por muitos enxergarem a igreja como a resolução de problemas, porém se esquecem que evangelho envolve renúncia. 

“Essas mudanças acabam refletindo na igreja. Geralmente são pessoas que se convertem e vem de um relacionamento desgastado por vários motivos, e muitas e às vezes acham que igreja será sua salvação sem entender que somos como igreja apenas o canal para que elas se acheguem ao Senhor, mas não querem ou não entendem que a mudança deverá vir delas próprias para que Deus possa modificar a situação em que estão vivendo. Procuramos tratar com amor a cada indivíduo, aconselhando e mostrando dentro da Palavra o valor que cada um tem dentro da família, e que o fortalecimento gera crescimento.”

Cleonice Araújo, esposa do pastor Alexandre Araújo, da IMW em Cataguases, lembra que há princípios que são inegociáveis, e que a falta dos mesmos reflete na desestruturação das famílias. “Há princípios estabelecidos na palavra de Deus que jamais podem ser removidos, por homem algum. E para lidar com esta realidade, é estabelecer a Bíblia como norte para qualquer decisão e tempo. Esdras 7.10 nos dá o caminho para lidar com esta realidade. O sacerdote dispôs o coração para: buscar a lei de Deus; cumprir a lei de Deus; ensinar a lei de Deus.”

Marcos Alberto da Costa, líder de famílias na IMW Central de Porto Velho, também acredita que as mudanças apontadas com relação ao perfil das famílias acabam acontecendo na igreja porque ela, como instituição, acaba se tornando uma extensão da sociedade, e tal como Cleonice, reitera a necessidade de se voltar à Palavra e guardar os ensinamentos de Deus.

“Creio ser preciso introduzir o conceito real e histórico destas diversidades de modelo familiar. Penso haver alguns perigos internalizados em alguns modelos, pois observo a perda de alguns princípios descritos em Gênesis 1:28 (que fala da ordenança “crescei e mutiplicai-vos”), Êxodo 20:12 (Honra teu pai e tua mãe), Salmos 127 (Os filhos são herança do Senhor), Efésios 5:33 (ame sua própria mulher como a si mesmo), 1Timóteo 5:8, dentre outros”, declara Marcos.

“Hoje vivemos um tempo em que com um click se tem respostas para tudo, porém na vida não funciona desta forma”, pondera Silvia, ressaltando que “a nossa trajetória depende das nossas escolhas, e esse é o grande desafio, conscientizar as pessoas a fazerem escolhas baseadas na vontade de Deus”. Afinal, a, própria Bíblia, através do apóstolo Paulo, fala em Romanos 12.2 que a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável.


Divórcio: uma realidade

Se a família é a base da sociedade, poderíamos então dizer que a base da família é o casamento. Não é difícil, portanto, imaginar que muitos problemas familiares possam ter o seu embrião no relacionamento a dois, e as igrejas também estão atentas à necessidade de se cuidar dos casais que lá estão.



O divórcio, aliás, é mais um indicador que mostra o quanto a família atual está mudada. Nunca houve tantas separações como hoje, como mostra a pesquisa Estatísticas do Registro Civil, feita pelo IBGE, e divulgada em dezembro do ano passado. O número de divórcios concedidos em 1ª instância ou por escrituras judiciais aumentou 3,2% entre 2017 e 2018. A pesquisa ainda mostrou que, no mesmo período, o número de casamentos caiu 1,6% em 2018 comparado ao ano anterior.

Presbítero Wagner, que lidera o trabalho com famílias na IMW em Vila Nivi, ressalta a importância da Palavra de Deus como arma para livrar o caos do casamento. “Isso não é espiritualizar a situação, é uma constatação.”

Ele continua, explicando a questão dos papéis do homem e da mulher no casamento segundo os padrões bíblicos. “Veja que hoje dentro das igrejas ainda existe o homem que não compreendeu sua função no casamento, e continua agindo numa relação escravocrata, muitas vezes humilhando e acabando com a esposa. Ouso dizer que, infelizmente, existe um tipo de feminicídio que não é dito e não está nas estatísticas, mas que é vivido por muitas mulheres crentes, onde seus maridos as tem matado, matando de forma proposital os seus sonhos, humilhando, abusando, sem qualquer expressão de amor.”

“Por outro lado estamos diante da falta de compreensão do texto Bíblico que diz respeito à sujeição, onde não há a compreensão da proteção estabelecida por Deus à mulher, e desta forma este termo ‘sujeitar, submeter’ passou a ser tratado como algo impraticável. Por isso entendo que só uma profunda reflexão, compreensão da Palavra, e sobretudo ação, poderá salvar os casamentos”, completa o presbítero.

Silvia destaca que muitas pessoas se casam buscando felicidade, mas se esquecem que há outra pessoa também buscando a mesma coisa e esperando algo em troca. “Pessoas estão casando para serem felizes, e não para fazer o outro feliz, e na primeira dificuldade não suportam, pois faltou o essencial, o amor. A Bíblia diz em 1 Coríntios 13 que amor é a base de todo relacionamento. O divórcio foi instituído por conta da dureza dos corações, e infelizmente tem crentes vivendo o divórcio por consequência da desobediência.”

“Deus criou o homem, Deus instituiu a família, Deus nos deu o manual do fabricante, que é sua palavra”, salienta Cleonice. “Então, creio que o mais importante seja entender e praticar esses princípios do Criador. Infelizmente, o que temos visto muito é falta de observância na Bíblia e a prática da mesma. Com isto, tem desencadeado uma série de conflitos de entendimento sem a prática da verdade. O maior desafio e obedecer a Palavra de Deus, que é o mesmo que andar na contramão de a toda sociedade”, acrescenta.

Presbítero Wagner lembra que “O casamento é tão importante que na Bíblia é comparado com Cristo e a Igreja (Ef, 5:22-33)”. Sobre o divórcio, ele afirma que “A Bíblia nos dá parâmetros para a questão do divórcio, e por isso não defendemos abusos de qualquer natureza, mas nunca dará base para uma ação egoísta, onde não se leva em conta o outro.”


Pais e filhos

Além do casamento, famílias também são compostas pelos filhos, e às vezes muitos vivem em conflitos com seus pais, principalmente quando entram na fase da adolescência. Por ser um tempo de questionamentos e descobertas, é comum que surjam desavenças e problemas entre pais e filhos.

(Foto: Shutterstock)

Marcos Alberto ressalta a importância de se construir um relacionamento saudável desde a primeira infância, e aponta também para a desconstrução dos princípios na atualidade como agravante no relacionamento entre filhos e seus pais. “Infelizmente vivemos uma era de pais ‘perdidos’, onde os filhos ditam as regras.”

O líder de famílias em Porto Velho relatou a recente experiência de adoção para ilustrar a importância do afeto para com um filho. “Atualmente eu e minha esposa nos encontramos há oito meses no processo de adaptação em guarda provisória de adoção de quatro crianças (quatro irmãos, adolescente de 13 anos, menino de 10 anos e gêmeas de 6 anos, que outrora residiam por quatro anos em instituição de acolhimento). Observa se que mesmo com diversos comportamentos hereditários ou mesmo introduzidos por traumas vivenciados, nossos filhos adotivos já apresentam modificações relevantes através da introdução de relacionamento saudável como amor, diálogo, regras, direitos, deveres. Meu principal objetivo neste relato é demonstrar que é possível imprimir uma nova ideologia, mesmo em adolescentes ditos rebeldes. Minha esposa diz que ‘ensinar cansa, mas vale a pena’, portanto não é tarefa fácil. O maior aconselhamento na minha visão para os genitores e gestores dos filhos está em amar e construir ou mesmo reconstruir um relacionamento saudável ou mesmo próximo do saudável.”

Presbítero Wagner reitera que filhos precisam de pais, e muitas vezes o problema pode estar até numa falta de correção. “Como posso deixar o meu filho viver sua vida sem acompanhamento, ou sem correção de rumo?”

“Pais que não conseguem dizer não estão condenando seus filhos a viver como se tudo fosse fácil e não precisassem lutar, serão sempre bebezinhos, sensíveis, despreparados para a vida. Não se recompensa filhos pela ausência, filhos querem contato, muito mais do que presentes. Filhos serão rebeldes, mas se você estiver ao lado tendo uma visão das questões que os cercam, e comunicar de forma correta, então amenizará a rebeldia. Filhos querem referência, eles querem parecer com alguém, ser amigo é o resultado disso”, completa.

Silvia alerta sobre pais que cobram de outras instituições o papel de criação que cabe a eles. “Tem de procurar sempre estar perto, pois quando nós como pais nos afastamos, damos brechas para que o inimigo se aproveite deste distanciamento. Nós não podemos transferir a responsabilidade de educar e orientar os nossos filhos para as escolas e igrejas. Deus confiou a nós, e isso é intransferível. Devemos sempre montar o Caminho e andar no Caminho que o Senhor estabeleceu, e teremos filhos abençoados.”

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