Bispo Jamir | Pensando sobre as tempestades da vida



 

Desejo começar nossa meditação com uma afirmação: “Deus é bom, sempre bom”. Algumas vezes não conseguimos ver a bondade de Deus nas circunstâncias da vida, mas, mesmo assim, Deus continua sendo sempre bom.  

 

As tempestades da vida não anulam a bondade de Deus. Não haveria o arco-íris sem a tempestade, nem o dom das lágrimas sem a dor. Só conseguimos enxergar a majestade dos montes quando estamos no vale. É das profundezas da nossa angústia que nos erguemos para as maiores conquistas da vida.  

 

Jesus passara todo o dia ensinando à beira-mar sobre o Reino de Deus. Ao final da tarde, ele deu uma ordem para os discípulos para entrarem no barco e passarem para a outra margem, para região de Gadara, onde havia um homem possesso. Enquanto atravessam o mar, Jesus cansado da lida, dormiu e uma tempestade terrível os surpreendeu, enchendo de água o barco. Os discípulos apavorados clamaram a Jesus. Ele repreendeu o vento, o mar e os discípulos, e aqueles homens apavorados com a fúria dos ventos ficaram maravilhados diante do seu milagre. 

  

Podemos aprender algumas lições importantes aqui: 

 

 As tempestades da vida são inesperadas. William Barclay diz que o Mar da Galileia era famoso por suas tempestades. É na verdade um lago de águas doces, de 21 km de comprimento por 14 de largura, está a 220 metros abaixo do nível do Mar Mediterrâneo e é cercado de montanhas por três lados, que têm até 300 metros de altura. Os ventos gelados do Monte Hermon com 2.814 metros, coberto de neve durante quase todo o ano, algumas vezes, descem com fúria dessa região tão íngreme e sopram com violência, e aí encurralados pelos montes, caem sobre o lago, agitando as ondas e provocando terríveis tempestades. (Mt 24:7). 

  

As tempestades da vida são também inesperadas: é uma pandemia, um acidente, um desemprego uma enfermidade, uma crise no casamento. As tempestades não mandam telegrama. Elas chegam em nossa vida sem mandar recado e sem pedir licença. As tempestades, algumas vezes nos surpreendem e nos deixam profundamente abalados. Como seguidores de Cristo devemos estar preparados para as tempestades que certamente virão. John Charles Ryle diz que os discípulos tinham passado o dia ouvindo o Mestre e fazendo sua obra, mas isso não os isentou da tempestade. Eles amavam a Jesus e tinham deixado tudo para segui-lo, mas isso não os poupou do mar revolto. As aflições e as tempestades da vida fazem parte da jornada de todo cristão. 

 

As tempestades da vida são perigosas. Mateus diz que o barco era varrido pelas ondas (Mt 8:24). Marcos diz que se levantou grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam contra o barco, de modo que ele já estava a encher-se de água (Mc 4:37). Lucas diz que sobreveio uma tempestade de vento no lago, correndo eles o perigo de soçobrar (Lc 8:23). As tempestades da vida também são ameaçadoras. Elas são perigosas. São verdadeiros terremotos na nossa vida. 

 
Muitas vezes, as tempestades chegam de forma tão intensa que deixam as estruturas da nossa vida abalada. Põem no chão aquilo que levamos anos para construir. É um casamento edificado com amor, que se desfaz pela tempestade da infidelidade conjugal. É um sonho nutrido na alma com tanto desvelo que se transforma num pesadelo. De repente uma doença incurável abala a família, uma pandemia ceifa uma vida cheia de vigor, um divórcio traumático deixa o cônjuge ferido e os filhos amargurados. Uma amizade construída pelo cimento dos anos naufraga pela tempestade da traição. 

 

As tempestades da vida são incontroláveis. Elas são maiores do que nossas forças. Os discípulos se esforçaram para contornar o problema, para saírem ilesos da tempestade. Mas eles nada puderam fazer para enfrentar a fúria do vento. Seus esforços não puderam vencer o problema. Eles precisaram clamar a Jesus. O problema era maior do que a capacidade deles de resolver. Há problemas que nos deixam com uma profunda sensação de impotência. Não temos força para resistir a fúria dos ventos e a força das ondas. Certa feita, Josafá, rei de Judá, foi encurralado por três inimigos que se armaram até os dentes para atacar Jerusalém. Mandaram-lhe um recado insolente, dizendo que o rei não podia escapar de suas mãos. Josafá teve medo, pôs-se a buscar a Deus e decretou um jejum em toda a nação. Então, Josafá orou e disse: (2 Cr 20:12). Quando o problema é maior do que a nossa força, quando não temos capacidade nem estratégia, precisamos olhar para Deus e depender dele, pois quando a tempestade está fora do nosso controle, ela não está fora do controle do nosso Deus. 

 

As tempestades da vida são surpreendentes. Elas podem transformar cenários domésticos em lugares ameaçadores. O Mar da Galileia era um lugar muito conhecido daqueles discípulos. Alguns deles eram pescadores profissionais e conheciam cada palmo daquele lago. Muitas vezes eles cruzaram aquele mar lançando suas redes. Ali era o lugar do seu ganha pão. Mas agora, estavam em apuros. O comum tornou-se um monstro indomável. Aquilo que parecia ser administrável torna-se uma força incontrolável. Muitas vezes, as tempestades mais inquietantes que enfrentamos na vida não vêm de horizontes distantes nem trazem coisas novas, mas apanham aquilo que era ordinário e comum em nossa vida e bota tudo de cabeça para baixo. Muitas vezes, é o cônjuge que foi fiel há tantos anos que dá uma guinada e se transforma numa pessoa amarga, agressiva e abandona o casamento para viver uma aventura com outra pessoa. Pense no que estamos vivendo hoje, há momentos em que as crises maiores que enfrentamos nos vêm daqueles lugares onde sentíamo-nos mais seguros. 

 

(Continuaremos na próxima edição com “As grandes perguntas feitas nas Tempestades”) 

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