| O programa e a presença


(Série Pensando o avivamento)

Quando A. W. Tozer, um profeta além do seu tempo, escreveu em um de seus livros, em meados do século passado, que "o Programa substituiu a Presença", isso me fez pensar. E depois de refletir um pouco, escrevi essas singelíssimas linhas.

Quero assim dar mais um brado, mais um grito, agora pela presença, por uma paixão pela presença de Deus em nossas reuniões. Com isso simplesmente quero dizer que Deus é, e deve ser, o foco do culto neotestamentário.

Começo então minha reflexão pensando no desastre de se focar mais o Programa do que a Presença.

QUANDO O FOCO É O PROGRAMA

Consequências óbvias:

1. Esse foco nos leva a uma abordagem mais tecnológica, mais técnica, mais logística, mais imanente do que transcendente do culto. Mais humana, mais racionalizada do que espiritual ou bíblica. Não se tem tempo para ouvir o Espírito em oração e pelas Escrituras. Temos forma, estrutura, entretanto a pergunta de Isaque para Abraão não quer calar: “Onde está o Cordeiro?". Cadê a Presença?

2. O foco no programa nos transporta para uma ênfase maior na "forma" do que na "essência". Muitos cultos e reuniões de adoração estão mais focados e preocupados com a forma, as vestes, as posições no altar (ou palco?) e a performance das pessoas. Mas e a essência da adoração, que é Jesus, que é Deus? Quem se lembrou? O que se fez sobre isso?

3. O foco no programa nos levará ainda a valorizar mais a "transpiração" do que a "unção". Mais ensaios, mais trabalho, mais detalhes na liturgia, mais luzes, mais papéis, mais coreografia, ufa, isso faz a gente suar. Mas e a unção? Quem pensou nela? O que se fez a esse respeito? Ouvi uma vez de um pregador e concordei: "A unção diminui o esforço”.

4. O foco invertido, no programa e não na presença, trará mais ativismo e correria e menos contemplação, menos oração. As pessoas sabem diferenciar um pregador, um cantor e um ministério de louvor que viu a face de Deus antes de tomar o microfone de um grupo que passou longe do Sinai e do calvário. Quando você desce do Sinai da oração e da contemplação, quando você vem do Cenáculo, você chega com seu rosto brilhando.

5. Se a prioridade for o programa e não a Presença, vamos focar mais as aparições humanas do que a manifestação divina. Todavia, quando aquela fumaça desce, ninguém fica de pé, e a aparência humana se dissipa na nuvem de glória. Quando Enoque desapareceu na terra, ele apareceu na Sala do Trono.

6. Ficaremos esperando o aplauso da terra e não do céu. O que é mais importante? A quem devemos agradar em nossos cultos? O céu procura esses adoradores. Deus disse certa vez: "Achei Davi". Quantos egos inflamados e doentios à procura de afirmação profanam o altar de Deus buscando aplausos para si.

7. O foco no programa tira a liberdade do culto Pentecostal e nos amarra a uma sequência de atos de culto que não podem ser interrompidos ou alterados, nem pelo agir do Espírito. Mas eu disse o "Espírito Santo" e não os delírios de um dirigente emotivo e desorganizado.

Mas e quando o foco é a presença?

O FOCO NA PRESENÇA

Consequências óbvias:

1.  O foco na presença de Deus nos levará a orar mais pelo culto. A esperar mais em Deus. Buscar na oração direção para fazer o programa, que não é mais o centro do culto, ainda que necessário. Ele é quem dá a planta do Tabernáculo, as medidas da arca, e Ele já revelou como quer ser adorado em sua Palavra. Leia. Ore. Ouça-o.

2. O foco na presença nos lembrará que o culto é para Deus e nos dirigirá antes de tudo a agradar a Ele e não a nós ou a nosso auditório. Sören Kierkegaard nos lembra que às vezes confundimos a Igreja com um teatro, mas no culto, ele diz, Deus é a plateia. Nosso culto será mais teocêntrico quando Deus for o foco.

3. O foco na presença influenciará a escolha de cânticos, a teologia dos cânticos e até a escolha de sermões. Quando o foco é a presença Santa, todos os atos do culto deverão honrar a Deus, falar de Deus e nos levar a Deus.

4. Nesse foco, vamos buscar viver aquela canção: "Mais de ti e menos de mim... que Ele cresça e eu diminua". Sim, nessa abordagem litúrgica não existe espaço pra personalismos, bajulações, tietagem e projeção humana. A pessoa humana aparece sim, mas só para apontar para Deus. Só para dar glória a Deus. Quando o foco é Deus, mais pessoas podem participar da adoração e do louvor, o culto não fica nas mãos apenas de alguém supertalentoso (e às vezes vaidoso).

5. Quando o foco é Deus e sua presença, a congregação reunida participa mais do louvor e da pregação. Diminui aquele desfile de cantores e cantoras, e o piloto não fica monopolizado. O estilo de culto de Efésios 5.19, que fala de "uns aos outros", ou seja, uns ministrando aos outros, se efetiva na reunião.

6. O astro, a estrela, a vitrine do culto volta a ser Deus quando o foco é a presença. Não é mais o cantor, a canção e nem o sermão, mas Deus. As pessoas não sairão mais impressionadas com "desempenhos", mas com Deus, sua presença, sua Palavra, seu toque, sua manifestação real.

O VALOR E O LUGAR DO PROGRAMA

Com essa abordagem, não quero menosprezar a ordem no culto e a sua racionalidade. Deus não é Deus de confusão. Sou a favor do programa.

Mas ele, o programa, não pode engessar o culto e nem restringir ou extinguir o Espírito, a presença.

A solução, penso, é uma reengenharia de nossos cultos, é reaprender com as Escrituras e com o Espírito Santo, como realizar um culto pra Deus, que atraia a Sua presença. Afinal, o véu já foi rasgado, não é?

Comecemos com aquele desejo, aquela obsessão santa se Isaías (Isaías 64.1): "Oh! se fendesses os céus, e descesses, e os montes tremessem à tua presença".

Em seguida, atentando ao mandamento apostólico:

"Não extingais o Espírito;" (Corrigida)
"Não atrapalhem a ação do Espírito Santo." (NTLH)
(1 Tessalonicenses 5.19)

Obrigado por ter lido.

Bispo Anderson Caleb Soares de Almeida é superintendente regional da 1ª Região Eclesiástica

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